Misturar o dinheiro da pessoa física (PF) com o da pessoa jurídica (PJ) é um dos erros mais comuns – e mais caros – na vida financeira do médico PJ. Receber plantão na conta pessoal, pagar escola dos filhos com o cartão da clínica, usar o CNPJ para gastos de supermercado… tudo isso parece inofensivo no começo, mas abre a porta para:
- problemas com a Receita Federal
- pagamento de mais imposto do que o necessário
- dificuldade total de saber se a clínica/consultório dá lucro ou prejuízo
- risco de cair na malha fina ou até responder por crime tributário em casos extremos
Separar finanças pessoais e empresariais do médico PJ não é um “luxo de empresa grande”; é obrigação básica para qualquer médico que quer crescer com segurança, pagar menos imposto de forma legal e evitar dor de cabeça com o Fisco.
Este guia mostra, de forma prática:
- por que separar PF e PJ é tão importante para médicos
- os riscos reais de não separar
- como organizar contas, pró-labore, distribuição de lucros e impostos
- um passo a passo simples para colocar tudo em ordem em 30 dias
- um checklist final para você aplicar hoje mesmo
Por que Médicos Devem Separar as Contas PF e PJ?
Médicos têm uma característica que aumenta o risco de bagunça financeira: várias fontes de renda simultâneas.
É comum ver:
- plantões como CLT
- atendimentos como autônomo (PF)
- recebimentos por CNPJ (PJ)
- cursos, palestras, consultorias
Se tudo isso cai na mesma conta bancária e é gasto sem critério, você perde totalmente a visão do que é:
- renda pessoal
- faturamento da empresa
- custo de manter o consultório/clínica
- quanto realmente “sobra” no fim do mês
Benefícios de separar PF e PJ
Quando o médico separa claramente suas finanças:
- Planejamento financeiro muito mais claro
Você sabe exatamente quanto a clínica/consultório fatura, quanto custa e qual é o lucro real. - Menos risco com o Fisco
Movimentações da conta PJ passam a ter comprovação e lógica empresarial. Menos chance de malha fina, autuações ou perda de benefícios fiscais. - Decisões melhores
Fica mais fácil saber se vale a pena contratar um funcionário, comprar um equipamento novo, abrir outra unidade, etc. - Mais acesso a crédito e condições melhores
Bancos analisam o fluxo da PJ. Conta organizada facilita financiar consultório, equipamentos e expansão. - Menos Imposto de Renda na PF
Ao organizar pró-labore e distribuição de lucros, é possível pagar menos IRPF de forma 100% legal.
O que Acontece Quando o Médico Mistura as Finanças?
Misturar PF e PJ não é só “falta de organização”; gera riscos concretos.
1. Problemas com a Receita Federal
Receita cruza:
- notas fiscais emitidas pelo seu CNPJ
- recibos em seu CPF
- DMED, IRPF dos pacientes, despesas médicas dedutíveis
Se você:
- recebe no CPF algo que deveria ter sido emitido como PJ
- paga despesas pessoais com conta da PJ sem documentação
- emite recibo em CPF quando deveria ser nota fiscal da clínica
o cruzamento de dados não fecha. Resultado:
- malha fina
- autuações
- glosa de deduções dos pacientes (seu paciente cai na malha fina e você também)
2. Mais imposto do que o necessário
Quando você usa a conta PJ para tudo:
- gastos pessoais entram como despesa da empresa sem critério
- sua contabilidade fica distorcida
- a Receita pode entender isso como distribuição disfarçada de lucros, sujeita a tributação
E quando você usa apenas a conta PF, ignorando a PJ:
- perde a oportunidade de tributar pelo Simples Nacional com alíquota menor
- paga IR como pessoa física (até 27,5%) em vez de aproveitar lucros isentos vindos da PJ
3. Ninguém sabe se a clínica dá lucro
Se aluguel, materiais, exames, secretária, imposto, supermercado, Netflix e escola dos filhos saem da mesma conta:
- não existe fluxo de caixa da clínica
- não há como saber se o negócio está saudável
- decisões passam a ser “achismo”, não número
4. Risco jurídico e contábil
Em situações mais graves, a mistura pode:
- caracterizar confusão patrimonial
- dificultar defesa em processos judiciais
- prejudicar blindagem patrimonial e planejamento sucessório (holding familiar, por exemplo)
Conceitos-Chave: Pró-Labore, Distribuição de Lucros e Despesas
Para separar bem PF e PJ, é essencial entender três conceitos:
1. Pró-Labore
É a remuneração mensal do sócio pelo trabalho que ele presta à empresa.
- Entra como despesa da PJ
- Entra como rendimento tributável na PF (sujeito a IR e INSS)
- Deve ter valor compatível com sua função e faturamento
Exemplo:
Empresa médica fatura R$ 80.000/mês. Um pró-labore em torno de R$ 20.000-R$ 30.000 costuma fazer sentido para manter Fator R acima de 28% e organizar a renda familiar, dependendo da estratégia tributária.
2. Distribuição de Lucros
É o lucro da empresa, após despesas, distribuído aos sócios.
- Não sofre IRPF adicional se o lucro estiver contabilizado corretamente
- É isento de IR para o sócio na maior parte dos casos (dentro das regras)
- É uma das formas mais eficientes de remunerar o médico PJ pagando menos imposto legalmente
3. Despesas Pessoais x Despesas da Empresa
- Despesas da empresa (PJ): aluguel do consultório, secretária, materiais, software médico, marketing, contador, energia do consultório.
- Despesas pessoais (PF): aluguel da casa, escola dos filhos, mercado, lazer, viagens pessoais.
Misturar despesas pessoais na PJ pode ser considerado:
- distribuição disfarçada de lucros
- ou até despesa indevida, gerando glosa e aumento de imposto
Passo a Passo: Como Separar Finanças PF e PJ do Médico
A seguir, um passo a passo prático para organizar tudo em até 30 dias.
Passo 1: Abra uma Conta Bancária Exclusiva para a PJ
Se você ainda recebe tudo na conta PF, o primeiro passo é:
- abrir uma conta corrente PJ
- direcionar todo o faturamento da empresa (plantões via CNPJ, consultas, repasses de hospitais, convênios) para essa conta
A conta PJ deve ser usada para:
- receber todos os valores da atividade profissional
- pagar despesas do consultório/clínica
- pagar impostos (DAS, INSS patronal, etc.)
- transferir pró-labore para a conta PF
- efetuar distribuição de lucros
A conta PF deve ser usada para:
- receber pró-labore e lucros
- pagar todas as despesas pessoais e familiares
Passo 2: Defina um Pró-Labore Fixo Mensal
Sem pró-labore definido, o médico “puxa dinheiro” da conta PJ no caos.
Defina:
- um valor fixo mensal de pró-labore (compatível com sua realidade e com o Fator R)
- uma data fixa de transferência da conta PJ para PF (ex.: todo dia 5)
Exemplo:
- Faturamento PJ: R$ 70.000/mês
- Pró-labore: R$ 20.000/mês
- Transferência: todo dia 5, de CNPJ → CPF
- Sobre esse pró-labore incidem INSS (como contribuinte individual) e IRPF, conforme planejamento
Passo 3: Faça a Distribuição de Lucros de Forma Organizada
Após pagar:
- despesas da empresa
- impostos
- pró-labore
o que sobrar é lucro.
Esse lucro pode ser:
- distribuído ao sócio, via transferência bancária da conta PJ para PF
- formalizado contabilmente (balanço, DRE) para garantir isenção de IRPF dentro das regras
Não use a conta PJ como “cartão de crédito pessoal”.
Use assim:
- PJ: paga tudo que é da empresa
- PF: paga tudo que é da pessoa física, mas pode ser alimentada por distribuição de lucros vindos da PJ
Passo 4: Pare de Pagar Gastos Pessoais com o CNPJ
A partir do momento em que a separação for implementada, adote a regra:
- Conta PJ não paga:
– mercado
– Netflix
– escola dos filhos
– gasolina do carro da família (salvo se for veículo exclusivo de trabalho, devidamente documentado)
– viagens de lazer
Se for inevitável pagar algo misturado em um mês, registre e normalize no mês seguinte via:
- pró-labore
- ou distribuição de lucros documentada
Passo 5: Implemente um Controle de Fluxo de Caixa
Tenha, no mínimo, duas visões:
- Fluxo de caixa PJ
– Entradas: plantões via CNPJ, consultas, repasses
– Saídas: aluguel, contador, sistema, folha, impostos, investimentos - Fluxo de caixa PF
– Entradas: pró-labore + lucros
– Saídas: moradia, saúde, escola, alimentação, lazer, investimentos pessoais
Ferramentas possíveis:
- planilha simples
- software financeiro médico
- sistema de gestão da clínica
Passo 6: Alinhe com o Contador
Seu contador deve:
- saber como você está separando as contas
- orientar o valor ideal de pró-labore (considerando Fator R, SIMPLES, INSS)
- registrar corretamente a distribuição de lucros
- garantir que tudo esteja coerente com IRPF e IRPJ
Um contador especializado em médicos é muito importante aqui.
Exemplo Prático: Antes x Depois da Separação
Antes (Mistura PF e PJ)
- Médico recebe R$ 80.000 na conta pessoal
- Paga aluguel da clínica, aluguel da casa, escola, viagens tudo na PF
- Não tem pró-labore definido
- Não sabe quanto é lucro da clínica
- IRPF estourando, quase sempre perto de 27,5%
- Risco de questionamento de despesas em IRPF
Depois (Separação PF e PJ)
- Faturamento de R$ 80.000 cai na conta CNPJ
- A PJ paga: aluguel consultório, secretária, software, contador, marketing, impostos
- Sobram, exemplo, R$ 40.000 de lucro após despesas e impostos
- Pró-labore: R$ 20.000 transferidos para PF (com INSS e IR controlados)
- Lucro: R$ 20.000 transferidos periodicamente como distribuição de lucros (isenta de IR, se tudo contabilizado corretamente)
- IRPF cai bastante, fluxo fica claro, e há base para decisões
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Erros Mais Comuns ao Tentar Separar PF e PJ
- Abrir conta PJ, mas continuar usando tudo como antes
A conta PJ vira apenas “mais uma conta”, não centro da operação. - Definir pró-labore irreais
- Pró-labore muito baixo: pode prejudicar Fator R e INSS
- Pró-labore muito alto: aumenta desnecessariamente IRPF e INSS - Distribuir lucros sem contabilidade mínima
- Sem registro, a Receita pode entender como rendimento tributável
- É essencial ter controles e, preferencialmente, balanço e DRE anuais - Misturar PF e PJ no cartão de crédito
- Usar um único cartão para tudo
- Dificulta completamente a conciliação fiscal - Não envolver o contador no processo
- Tenta “fazer sozinho” e se perde
- Falta de registros pode gerar problemas futuros
Checklist Rápido: Você Está Misturando PF e PJ?
Responda sinceramente:
- Recebo pagamentos médicos na conta pessoal (CPF)?
- Pago aluguel do consultório com a mesma conta que pago escola dos filhos?
- Meu pró-labore não está definido ou muda todo mês sem controle?
- Uso cartão da empresa para gastos pessoais?
- Não sei dizer, hoje, qual é o lucro real da clínica?
- Nunca conversei com meu contador sobre distribuição de lucros e Fator R?
Se respondeu SIM a 3 ou mais itens, você está em alto risco financeiro e fiscal.
Perguntas Frequentes: Finanças PF e PJ para Médicos
Médico pode atuar como PF e PJ ao mesmo tempo?
Sim. É comum ter rendimentos como CLT, autônomo e PJ. Mas cada fonte precisa ser registrada, declarada e separada corretamente na contabilidade e no IRPF, sem misturar recibos e notas.
Recebi plantão em dinheiro/transferência para CPF. Posso “jogar” na PJ depois?
Em regra, não é tão simples. Ideal é já organizar de forma correta na origem. Em alguns casos é possível estruturar, mas precisa de orientação do contador.
É obrigatório ter conta PJ no banco?
Legalmente, não há lei dizendo “é obrigatório”, mas na prática, é essencial para controlar e separar finanças e para evitar problemas com Receita e bancos.
Posso pagar meu carro pessoal com dinheiro da PJ?
Somente se houver justificativa (carro 100% a serviço da empresa, documentado). Caso contrário, ideal é receber pró-labore/lucros e pagar na PF.
Separar finanças realmente ajuda a pagar menos imposto?
Sim. Quando bem feito, permite:
- tributar na PJ com alíquotas menores (Simples/Fator R)
- usar distribuição de lucros isenta de IRPF
- reduzir IRPF sobre pessoa física de forma legal
Conclusão
Separar as finanças pessoais e empresariais do médico PJ não é uma recomendação “bonita” de gestão – é um fator de sobrevivência tributária e financeira.
Com contas misturadas, você:
- paga mais imposto
- corre mais risco com a Receita
- perde a visão real da saúde do consultório
- dificulta qualquer planejamento de crescimento
Com PF e PJ bem separadas, você:
- entende exatamente quanto a empresa ganha, gasta e lucra
- consegue planejar impostos e previdência
- decide com segurança quando investir, contratar e expandir
- protege seu CPF e seu patrimônio pessoal
Próximos passos práticos:
- Abrir conta bancária PJ, se ainda não tiver
- Definir pró-labore fixo e data de transferência mensal
- Parar de usar conta PJ para gastos pessoais
- Organizar um fluxo de caixa separado para PF e PJ
- Marcar uma reunião com um contador especializado em médicos para ajustar pró-labore, Fator R e distribuição de lucros
Separar finanças é o primeiro passo para ter um consultório saudável e uma vida financeira em paz.
Move Online – Contabilidade Especializada em Saúde 💙
De contador para médico: um recado do fundador.
"Criamos a Move para transformar a contabilidade médica em ferramenta de crescimento. Aqui, o foco é permitir que o médico empreenda com segurança, pague menos impostos e tenha tranquilidade para cuidar de vidas."
Wanderson Pires
Contador e Tributarista
CRC SP 280216/O-0


